terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A menina do segundo encontro

Certo dia pegaram os sentimentos bons e sinceros de uma princesa e seqüestraram.Colocaram eles dentro de um saco, amarraram boca e jogaram no mar. Achando pouco, ainda colocaram no saco de sentimentos, uma pesada barra de ferro para que eles tivessem menos chance de sair e voltar a tomar conta do intímo daquela princesa.

Pois bem, maltrataram tanto a princesa, que ela nem dava mais por falta dos sentimentos puros que outrora dominavam a essência de sua alma. E num é que a princesa perdeu a sensibilidade que tinha pelas pessoas? Ela se tornou um ser tão egoísta, motivo pelo qual não se reconhecia mais, que passou a não se importar com as pessoas que muitas vezes só queriam te dar carinho.

Vi essa princesa fazer cada coisa. Amantes que batiam a sua porta implorando seu carinho e seu amor, a princesa escorraçava ou quando não, usava seus corpos para seu deleite e prazer momentâneo, para logo em seguida os mandar para suas casas, debaixo de chuva ou sol. Também a princesa não permitia que amantes a vissem pela segunda vez, tamanha era a intolerância que tinha. E vi muitos amantes felizes, pensando inocentemente que tinham conseguido conquistar ou reconquistar a princesa. Pobres amantes inocentes!

A princesa queria resgatar seus sentimentos, mas ela não sabia nadar, tinha muito medo de água e não sabia o que fazer. Ela se sentia mal com suas próprias atitudes, pois não se preocupar com as pessoas não era uma coisa cotidiana em sua vida.

Até que um dia chega uma menina, que num primeiro instante parecia ser mais uma inimiga, de tanto que ela e a princesa arengavam, e arrebatou o coração da princesa. Ela ainda foi ríspida, como era de se esperar, mas a menina chegou e amou a princesa de tal forma que a deixou rendida. Ela descobriu que não precisava necessariamente ir ao fundo do mar para resgatar seus sentimentos, mas o que precisava mesmo era deixar alguém ir ao fundo de sua alma, porque os sentimentos nunca saíram de lá. E a princesa permitiu um segundo encontro.

E ela amou a menina por todos os outros encontros que aconteceram e por todos os encontros que ainda estão por vir.

A Mulher-Maravilha

Hoje eu conheci a Mulher-Maravilha, quer dizer, eu conheci a mulher que pensa, de forma idiota, que é a Mulher-Maravilha. Ela que abraçar o mundo com as mãos e as pernas, sem saber que para isso ela teria que ser a Mulher-Elástica. Essa super mulher quer resolver os problemas da humanidade, se não da humanidade, mas pelo daqueles que a cercam. E ela acaba por esquecer de todos os problemas e inquietações que permeiam sua alma. A esposa perfeita de um casamento desgastado. A mãe protetora que anula os anseios da mulher sensual. A filhinha de família que intimida os mais obscuros desejos carnais. A superhipermegamulher empresária em que se transformou quando utilizou o trabalho obsessivo como uma válvula de escape para fugir de seus íntimos desejos.

Ò mulher Maravilha, não reprime teus desejos de outrora. Porque não podes ser você mesma? Porque não permite resgatar sua vida em vez de querer fazer dela apenas uma coisinha bonita para os outros admirarem? Porque não deixas de querer ser sobre humana e queres apenas ser a uma simples mortal? Qual a graça de ser uma Deusa, se no fundo do teu coração, queres apenas ser a vítima e não a salvadora do mundo.Faço minhas as palavras do poeta: Arre, estou farto de semi-deuses! Onde é que há gente no mundo?

Quantas Mulheres-Maravilha conhecemos, que deixam de lado sua vida em prol de vidas alheias. Há tempo ainda de resgatar quem você realmente é. Ninguém deve sentir-se obrigada a ser forte o tempo todo. Há momentos e muitos momentos em nossas vidas que tudo o que devemos fazer para nos mostrarmos fortes é nos mostrarmos fracos. Sim, cairmos no ombro, no colo, no útero , no coração de quem estiver disposto e nos desabar por completo.

É preciso ver que na simplicidade das coisas pode estar a felicidade, impedida de habitar na vida das Mulheres-Maravilhas por causa das convenções a que elas se submetem.

Toma banho na chuva sem se incomodar em desfazer a escova que tomou boa parte de tua manhã em um salão de beleza. Come brigadeiro de colher na panela sem se preocupar com as calorias que causarão gordurinhas e provocarão a ira daqueles a quem você é obrigada a mostrar as curvas em que você mesmo se perde. Ama aquilo que tu queres, ama a quem tu queres, por mais absurdo que possa aparecer. Mas seja você mesma, mesmo que isso doa aos teus. Lembra que a maior dor é causada pela agressão que você faz a si mesma quando aniquila teus desejos. Quebra as regras anteriores, pois de agora em diante, a maior regra estabelecida é sua felicidade. Você não tem ser a Mulher-Maravilha, você tem que ser a mulher que faz da vida uma maravilha.

Me tiraram a crença

Me tiraram a crença na vida, nas pessoas, no amor. O que me resta agora, se para sobreviver neste mundo, eu precisava da força do acreditar? Como suportar a pesada carga da vida sem ousar enxergar lá na frente, mesmo que num longínquo futuro, que algo de bom pudesse acontecer?

Era o que eu tinha de mais bonito, de mais puro e concordo, até de mais idiota. Acreditar no ser humano e que eles poderiam me propiciar coisas boas, mesmo em meio a todo o egoísmo que cerceia a humanidade, na minha limitada visão, era algo crucial, assim como a respiração. Mas me tiraram isso e hoje só penso em me proteger de todos esses seres humanos (?) que não mais acredito. Tenho medo deles, me sinto como um gato escaldado que tem medo de água fria. Não pulo mais na panela do amor, não depois que me tiraram à crença. Ah! Malditas as pessoas que jogam seus gatos em baldes de água quente. Merecem a morte, mas não a morte física, pois isso seria pouco, mas a mesma morte em que se encontra quem não acredita mais em nada.

Me tiraram a sensibilidade de perceber a beleza da flor que brota na calçada e isso me faz agora mudar de lado só para desviar dela. Me tiraram os sonhos, que eram nossos é bem verdade, e agora não consigo ou tenho dificuldades em sonhar sozinha. Mas, se eu não acredito mais em ninguém, subtende-se que não terei mais sonhos com qualquer que seja a pessoa. E se eu tenho dificuldades em sonhar sozinha, subtende-se que não tenho sonhos próprios. E quão difícil é viver sem eles. Ah! Malditas todas as pessoas que nos roubam os sonhos.

Que espécie de ser humano eu sou agora? No que me transformei? Todo dia essas perguntas me inquietam. Cadê minhas saudades e meu amor ao próximo? Cadê minha sensibilidade e minha inocência? Cadê eu mesma e a carga de sentimentos bons que me acompanharam durante a vida? Ah, eles se foram junto com a crença. No lugar deles, muitos outros sentimentos vieram e tomaram conta de minha alma. O egoísmo(sim, agora sou uma egoísta como as malditas que me tiraram a beleza de enxergar a verdade nelas próprias), a auto-suficiência, a intolerância e a dureza com as pessoas. Ah! Malditas, como ousaram fazer isso comigo?

Nas minhas noites insones e silentes, busco saber quem eu sou, porque não me reconheço mais. Procuro uma solução para retornar ao começo e fazer tudo de novo, acreditar de novo, amar de novo, ver a beleza de novo. A busca me parece em vão. A angústia se apossa de mim por que a única coisa que quero é me proteger das malditas. E nessa proteção, a solidão toma conta de minha vida. E o que é pior é se sentir feliz nessa solidão. Vejam no que me transformaram, em um ser que ama a solidão, a coisa que mais me assustava. Jamais perdoarei o que fizeram comigo.

Mas, sou uma guerreira e as guerreiras nunca desistem. Hei de resgatar tudo o que eu tinha no meu interior, só não sei ainda como. Mas, nesse instante, só a vontade me basta.

Ah ! Malditas!

Os entregadores de água mineral

Os homens!!!!! Ah, os homens! Passam o dia completo, o mês inteiro, o ano todo, tentando provar, se convencer e nos convencer, de que são seres superiores à nós, mulheres. E tentam de tudo, com piadas sem graça, brincadeiras de mau-gosto e até ofensas para comprovarem sua suposta superioridade.
E vivemos nessa eterna guerra dos sexos (ou seria, uma guerra de sexo). Bom, pra falar a verdade, vou dizer uma coisa:
-Eu acho a presença do sexo masculino totalmente dispensável na face da terra!
-È, eu acho que estou sendo radical!
-Ok! Retiro o que eu disse. Talvez parcialmente dispensáveis, pois fico imaginando: será que existem as tais coisas que só eles conseguem fazer?
Vamos pela listagem:

Trocar lâmpadas. Não, isso eu consigo fazer, basta ter uma escada e alguém para me entregar a lâmpada nova e receber a queimada (o que necessariamente não precisa ser um homem, podendo ser até uma outra mulher).

Trocar o botijão de gás. Olha, isso eu também consigo fazer. Só preciso de uma daquelas chaves... Como é mesmo o nome? Sei lá, deve ser chave de trocar botijão de gás! Bom, mesmo sem saber o nome da bendita chave, consigo trocar.

Matar baratas. Também consigo. Ah! Pensou que eu ia dar o braço a torcer, hein? Olha, consigo sim e graças a um tal de rodasol, um ótimo mata-baratas em que a química responsável é uma mulher, escutou bem, mulher, eu mato qualquer barata. E acho até melhor, pois não deixo o chão todo melecado. Aliás, vocês já viram como homem mata barata? Para provar toda sua masculinidade, o seu superpoder diante dela, da barata, e que é macho, acaba esmagando a coitada. Depois, ainda posa em cima dela como se tivesse feito um grande ato de bravura. E assim deixa o chão todo sujo com os restos gosmentos das baratas. Ah! Claro que não preciso dizer que ele também não pega a pazinha, coloca a baratinha e joga no lixinho. Aí começa a juntar formiga para sujar a casa, o escorpião que se alimenta de barata também aparece. Como escorpião é venenoso, pode picar e depois levar a morte. Meu Deus, homem matar barata é uma catástrofe!

Viu, não tem nada que só os homens conseguem fazer. Espera aí! Lembrei de algo que me faz precisar deles. Aí sim, pra resolver isso eu não dispenso um belo macho da espécime! Para Trocar o botijão de água mineral! Isso sim, eu faço questão que eles façam pra mim. Todas as vezes que eu peço água pelo telefone, me vem essa vontade de precisar deles: OS ENTREGADORES DE ÁGUA MINERAL. Eles só entregam e não colocam no suporte ou gelágua, mas basta fazer uma carinha de que não posso, eles colocam pra mim. O meu cunhado diz que de maneira nenhuma eles fazem isso pra ele. E quando eles estão chegando, peço a meu cunhado que se esconda no banheiro. Eles pensando que estou sozinha, logo se oferecem pra pôr aqueles 20 litros de água no seu devido lugar. Como eles caem nisso, como são bobinhos.

É engraçado ver a cara deles quando vêm alguém com a periquita entre as pernas diante de seus olhos, mesmo sabendo que a periquita não é para eles. Mas, só em saber que ela está lá, já se rendem. E olhe que eu não sou nenhum mulherão, sou até bem pequeninha. Mas mesmo assim, consigo fazer com que os homens façam o que preciso.

E como são cuidadosos, os entregadores de água mineral, como são limpinhos. Vocês precisam ver como são dedicados, como limpam o suporte e passam pano úmido no botijão para tirar o pó. Depois ficam com cara de cachorro esperando que o dono lhe dê um osso, aguardando que nós, mulheres, digamos somente: obrigada.

Definitivamente eu adoro ser mulher! Adoro ter esse poder sem precisar ser autoritária. Adoro que eles me obedeçam sem que necessariamente eu mande.

E quanto a vocês, homens! Não se preocupem, vocês ainda tem utilidades! Afinal, só vocês produzem espermatozóides, contribuem para a perpetuação da espécie e são os únicos capazes de serem, ENTREGADORES DE ÁGUA MINERAL.