terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Me tiraram a crença

Me tiraram a crença na vida, nas pessoas, no amor. O que me resta agora, se para sobreviver neste mundo, eu precisava da força do acreditar? Como suportar a pesada carga da vida sem ousar enxergar lá na frente, mesmo que num longínquo futuro, que algo de bom pudesse acontecer?

Era o que eu tinha de mais bonito, de mais puro e concordo, até de mais idiota. Acreditar no ser humano e que eles poderiam me propiciar coisas boas, mesmo em meio a todo o egoísmo que cerceia a humanidade, na minha limitada visão, era algo crucial, assim como a respiração. Mas me tiraram isso e hoje só penso em me proteger de todos esses seres humanos (?) que não mais acredito. Tenho medo deles, me sinto como um gato escaldado que tem medo de água fria. Não pulo mais na panela do amor, não depois que me tiraram à crença. Ah! Malditas as pessoas que jogam seus gatos em baldes de água quente. Merecem a morte, mas não a morte física, pois isso seria pouco, mas a mesma morte em que se encontra quem não acredita mais em nada.

Me tiraram a sensibilidade de perceber a beleza da flor que brota na calçada e isso me faz agora mudar de lado só para desviar dela. Me tiraram os sonhos, que eram nossos é bem verdade, e agora não consigo ou tenho dificuldades em sonhar sozinha. Mas, se eu não acredito mais em ninguém, subtende-se que não terei mais sonhos com qualquer que seja a pessoa. E se eu tenho dificuldades em sonhar sozinha, subtende-se que não tenho sonhos próprios. E quão difícil é viver sem eles. Ah! Malditas todas as pessoas que nos roubam os sonhos.

Que espécie de ser humano eu sou agora? No que me transformei? Todo dia essas perguntas me inquietam. Cadê minhas saudades e meu amor ao próximo? Cadê minha sensibilidade e minha inocência? Cadê eu mesma e a carga de sentimentos bons que me acompanharam durante a vida? Ah, eles se foram junto com a crença. No lugar deles, muitos outros sentimentos vieram e tomaram conta de minha alma. O egoísmo(sim, agora sou uma egoísta como as malditas que me tiraram a beleza de enxergar a verdade nelas próprias), a auto-suficiência, a intolerância e a dureza com as pessoas. Ah! Malditas, como ousaram fazer isso comigo?

Nas minhas noites insones e silentes, busco saber quem eu sou, porque não me reconheço mais. Procuro uma solução para retornar ao começo e fazer tudo de novo, acreditar de novo, amar de novo, ver a beleza de novo. A busca me parece em vão. A angústia se apossa de mim por que a única coisa que quero é me proteger das malditas. E nessa proteção, a solidão toma conta de minha vida. E o que é pior é se sentir feliz nessa solidão. Vejam no que me transformaram, em um ser que ama a solidão, a coisa que mais me assustava. Jamais perdoarei o que fizeram comigo.

Mas, sou uma guerreira e as guerreiras nunca desistem. Hei de resgatar tudo o que eu tinha no meu interior, só não sei ainda como. Mas, nesse instante, só a vontade me basta.

Ah ! Malditas!

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